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Escritos de Dor

Não há serenidade nenhuma. Só sinto um outro algo. Uma eterna perturbação dolorida, um desassossego crônico, pontiagudo, um rumor subterrâneo e lacrimoso por trás da alma, um marulho angustiado, apertado, tenso, assustado, bem no meio do peito. A sensação da despedida em mil portos e rodoviárias, quando o ônibus vira a esquina devagar ou o barco se perde no infinito, como se a gente fosse um lugar para o qual ninguém volta, como se a gente fosse um tempo que sempre já passou e toda alma já esqueceu. Assim como que um vazio desabrigado que ninguém vem socorrer, uma dor que ninguém vem acalmar. É um desespero despertencido de se estar deslocado sem nunca ter sido realmente colocado de verdade em lugar nenhum. O desamparo órfão de se não estar em lugar algum, como que sempre vagando invisível por uma cidade fantasma, eternamente, tudo é fantasma. É assim como que um vento escuro que atravessa os ossos da gente a toda hora, não há descanso, nem trégua, só um medo frio, gelado, agitado, na medula, que não sossega nunca, que não acalma, que não alivia. Uma represa de choro entre os seios, onde devia estar o coração, mas é uma água triste ali, encolhida, apavorada, como espinho aninhado na carne, um (more…)