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~Deitada, quieta, no escuro, o coração bate tão forte que se faz sentir.
E se de repente para?
Um musculinho de nada, batendo teimoso, por décadas. E se de repente para? Essa maquininha, por que funciona?
Uma bolota de carne, caída no mundo, sem manual. Ciente de que existe. Para que? Vá você dizer com certeza o que está fazendo aqui, por quê isso eu não tenho para dizer. Estou aqui. Estou fazendo, mas o que?
Estou só pulsando. Só? Estou só. Na verdade nem isso. Eu só estou. Estou. Estou esse corpo, essa massinha de carne, com esse negocinho que pulsa.
E se de repente para?
Que pode ele diante do vendaval que assopra, da faca que fura, da terra que gira? Que paúra dessa fragilidade!
E se de repente para?
Coração, por favor, não bata assim tão forte, tão de mal jeito, que me faça percebê-lo, que me lembre que estou assim tão viva, que você bate assim tão perto da pele, tão fácil de rasgar, tão fácil de estragar.
E se de repente para?